sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Ultimate Lover

 

Ikeuchi Jin não era a pessoa mais descolada do mundo. Não, ele era o cara mais brega e infantil que Asamura Ryuutarou conhecia. Ele era capaz de combinar uma boina amarela, uma blusa azul e bermudas com estampas de camuflagem, usando um coturno, de uma forma que fizesse os olhos doerem. Diferentemente de Asamura, que vivia com um guarda-roupa que mais parecia saído de um editorial de moda masculino. Mas Ryuutarou nunca admitiria que achava fofo demais, quando o via com kigurumis de coelhinho.


Ikeuchi Jin não era atento. Muito longe disso, parecia sempre estar em um mundo paralelo, povoado por samurais, robôs gigantes, cavalheiros de capa e espada, romances água-com-açúcar e batalhas. Diferente de Asamura Ryuutarou, que vivia para prestar atenção no que acontecia à sua volta, sem querer, de fato, participar. Ele se contentava em olhar a vida passar, placidamente, sem interferir o curso das coisas. Porém, seus olhos brilhavam cada vez que via Jin absorto nas letras das músicas da banda deles, com o contra-baixo no colo.

Ikeuchi Jin não sabia ser muito popular fora de Akihabara. Pelo contrário. Parecia um imã de encrencas e confusões. Mas quando estava em seu território, no bairro povoado pelos otakus, nerds, geeks e simpatizantes, ele se confundia às pessoas, mas não perdia seu brilho. E seus amigos gostavam dessa energia que o baixista emanava. Era sempre bom ter alguém assim ao seu lado.

Asamura Ryuutarou era popular em Kabukicho. Mas não como Ryuutarou. Alguns anos atrás ele fora conhecido como Ayako, a melhor Maiko da melhor casa de chá do bairro comandado pela Yakuza. E ninguém o tocaria, ele era o boneco de porcelana mais precioso do local, protegido pelo próprio Han. E seus olhos estavam sempre perdidos em algum ponto do passado, nunca apreciando o presente. E melancólico demais.

Ikeuchi Jin odiava brigas. E conhecera Asamura Ryuutarou em uma. Ele tentara defender o garoto que odiava ser defendido. Mas não protestara, quando seu salvador fora um otaku que mais parecia um bambu de cutucar estrela, com roupas coloridas e nenhum jeito para proteger alguém. E ele ainda vinha de metrô, ao invés de cavalo branco. Um herói moderno... ou não.

Asamura Ryuutarou odiava agitações. E conviver com Ikeuchi Jin era viver em meio a tempestuosidades, risos, confusões sem sentido algum e brisas assustadoramente malucas. Porém, enquanto houvesse brilho nos orbes escuros do maior, ele jamais reclamaria daquilo, sendo capaz até mesmo de embarcar naquilo tudo, junto ao mais velho.

Asamura Ryuutarou jamais se considerara alguém capaz de ser amado. O garoto vivera acreditando que seu coração havia morrido junto a alguém especial. Mas vira que estava completamente errado, quando conhecera Ikeuchi Jin. E agradecia todos os dias por ter alguém como ele ao seu lado.

Ikeuchi Jin e Asamura Ryuutarou eram completamente diferentes. O baixista era tão expansivo que chegava a deixar o baterista com ciúmes. E o baterista era tão sem-jeito em demonstrar emoções que confundia o baixista. Jin era ligado demais ao primo. E Ryuutarou queria se chutar, cada vez que sentia-se deixado de lado.

Ryuutarou tinha mania de sumir, quando estava triste, correndo para o colo do irmão. Era egoísta para não se preocupar com Jin. Mas sempre queria voltar logo, para poder abraçá-lo e sentir que não estava tão sozinho assim. Precisava dos sorrisos do baixista e de sua confusão para poder sorrir.

Eles eram completamente diferentes. E isso chegava a irritar o mais novo, fazendo-o exercitar sua paciência além do normal. Algumas vezes precisava contar até cinquenta, antes de pular no pescoço do namorado e sacudí-lo até enfiar um pouco de juízo naquela cabeça de vento. Outras, ele mesmo precisava levar uns tabefes para acordar e ver que estava fazendo tudo errado.

E não importava o quão errado ele fosse, por Ikeuchi Jin ele sentia-se com vontade de melhorar e ser alguém digno de fazer o otaku feliz. Da mesma forma como era feliz. Mesmo que tropeçasse pelo caminho, se reergueria e começaria novamente, disposto a ver sorrisos verdadeiros na face de Ikeuchi.

Afinal, o amor faz pólos completamente opostos se atraírem e se completarem, faz o cara mal se sentir uma colegial retardada ao lado do gigante bobão, achando tudo isso lindo. E faz um certo baterista sorrir pelos cantos, sem motivo algum, só de saber que, ao abrir a porta do estúdio, lá estará ele, sorrindo para si.

É, o amor fazia as pessoas completamente idiotas. E felizes.

 

Notas Finais:

Final estranho '''

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