sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sing in the rain

Segurando minha espada monótona ao meu lado, eu acerto você
Eu me enfureço com o calor e, rudemente, me viro de costas para você
E 1, 2, 3, minhas lágrimas caem

Quem adentrasse o apartamento escuro (tanto pelas cortinas fechadas e as luzes apagadas, quanto pela noite) ouviria somente soluços abafados e veria uma figura pequena encolhida sobre o futon, com a cabeça apoiada na janela acima do mesmo, enquanto segurava uma garrafa de whiskey já pela metade.


Um soluço mais alto ecoou pelo local. Desde quando ele havia se perdido tanto dentro de si mesmo, tentando esconder os próprios sentimentos, que não notara ser era uma batalha perdida tentar negar? Ikeuchi sabia de seus sentimentos, Asamura era incapaz de negá-los e agora lutava por algo que seria inútil.

Asamura não sabia amar. Não sabia cuidar de quem lhe era importante, acabando por deixar com que todos se esvaíssem como areia por seus dedos.

Piscou com o clarão provocado por um relâmpago. Um, dois, três, quatro, cinco. Encolheu-se com o trovão, colocando as mãos na cabeça, gemendo baixinho. As lágrimas voltavam a cair, juntamente com as gotas de chuva.

Deu mais um longo gole na bebida cor âmbar, diretamente do gargalo, sem se importar se estaria parecendo ainda mais deprimente com aquele ato. Olhou para o rótulo do vidro, sorrindo de canto com um ar desolado. Ainda conseguia se lembrar dos motivos que o levaram a tornar-se Jack.

Ryuutarou jamais conseguiria realizar a vontade de Junichi e seguir em frente com seu sonho de tornar-se um baterista. Ah, ele não era tão forte a ponto de conseguir superar tudo pelo que havia passado. Mais um gole na bebida que descia fazendo sua garganta queimar. Tão amarga quanto seu sonho, tão apreciada quanto as batidas do instrumento, tão almejada quanto a vontade de ser feliz. Jack era amargo e decidido. Ryuutarou era a criança insegura que havia sido abandonada por si mesmo.

Desde quando eu comecei a afundar dessa forma?
Mantendo minhas cicatrizes em minha garrafa de whiskey, eu engano você
Eu me confundo com felicidade & alegria, e me viro de costas para você

Riu, passando a manga comprida da camiseta pelo rosto banhado de lágrimas, tentando secar-se, mas falhando miseravelmente, uma vez que o choro não dava sinais de cessar tão cedo. Assim como aquela dor em seu peito.

Lançou mais um olhar à garrafa, antes de largá-la ao lado do futon, suspirando baixo. Jack poderia ter nascido da necessidade de sentir-se seguro, mas, infelizmente, não anulava a presença de Ryuutarou. E era Ryuutarou quem chorava de frustração. Ryuutarou havia se apaixonado por Ikeuchi Jin. Não Jack, não o cara mal e gélido. Ryuutarou se apaixonara tão profundamente que não conseguia mais negar isso ao baixista. Nem a si mesmo.

Voltou a olhar pela janela, forçando a vista pela chuva e pela luz provinda somente dos postes de luz, levantando-se em um salto. Não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Saiu do quarto, atravessando a sala e abrindo a porta, pouco se importando em calçar alguma coisa, indo direto até os elevadores, apertando o botão seguidas vezes, irritando-se com a demora do mesmo.

Gritou, dirigindo-se até as escadas e começando a descê-las pulando de dois em dois degraus, amaldiçoando a si mesmo por ter escolhido morar no quarto andar. Pouco se importava se acabaria caindo e rolando os degraus, falseando em alguns lances, xingando Deus e o mundo, principalmente aquele idiota que resolvera aparecer ali, naquela chuva infernal. Era ele, Ryuutarou sabia. Reconheceria aquelas roupas coloridas em qualquer lugar.

Chegou à portaria ofegante e se apoiando nas paredes, os joelhos vacilantes e a respiração dolorida, chamando a atenção do porteiro, um senhor simpático e de cabelos brancos, que correu até si, segurando-o pelos ombros.

-Asamura-san, você está bem? - Ryuutarou apenas concordou, soltando-se e correndo para fora do prédio, sentindo as gotas de chuva começar a castigar sua pele, enxarcando-o em questão de segundos. Logo estava com as roupas molhadas e os cabelos colando no rosto, olhando para os lados e procurando por Ikeuchi, sentindo o asfalto machucar seus pés.

Não podia ter sido uma miragem, ele havia visto Ikeuchi ali, na rua, na frente de seu apartamento. Tinha certeza! E as lágrimas voltavam a cair, misturando-se com a água da chuva, enquanto o baterista abraçava a si mesmo, soluçando alto e agradecendo pela rua vazia, tanto pela chuva quanto pelo horário. Por que ainda acreditara que seria ele?

Canto na chuva. Pessoas são criaturas estranhas
Eu sou um palhaço incapaz de rir, mas eu esto rindo
Eu não quis te deixar triste, mas...

-Ryuu-chan? - estremeceu ao escutar a voz tão conhecida, mordendo os lábios com força. - Jackie! Está chovendo, que idéia é essa de ficar aqui fora e descalço? Você vai se resfriar!

O baterista virou-se lentamente, só então percebendo que o outro vestia uma capa de chuva transparente, e o olhava com preocupação, andando até si.

Para Jin, aquela era uma cena quase surreal. Jamais, em todo o tempo que conhecia o rapaz de cabelos longos, imaginara que o veria naquela situação, com somente uma calça jeans e uma camiseta preta, descalço no meio da rua e tomando chuva, enquanto o olhava parecendo tão quebrado. O baixista sentiu o coração comprimir ao perceber que o baterista chorava.

-Por que eu Jin? - Ryuutarou indagou, em uma voz tão baixa que, não fosse a proximidade, Shibuya jamais haveria ouvido a pergunta. - Com tantas pessoas melhores, por que foi olhar para mim, que não valho nem mesmo um minuto da sua atenção?

-Porque é você. - respondeu simplesmente, abraçando-o e tentando protegê-lo da chuva, mas sem sucesso algum. Até ele começava a ficar molhado. - Porque você é o garoto que eu protegi de apanhar, uma vez. Porque você parece um ursinho, de tão fofo. E porque você é bem mais do que quer aparentar. E eu amo você.

E quando percebeu, os lábios do baterista estavam sobre os seus, em um toque gélido e amargo, as mãos trêmulas pousadas do lado do seu rosto em um toque desajeitado e temeroso. Arregalou os olhos, levando as mãos até a cintura do mais jovem, para afastá-lo em um reflexo, mas Asamura passara os braços por seus ombros, aproximando mais os corpos e contornando seus lábios com a língua, pedindo mudamente para aprofundar o beijo, o que fora logo concedido. Jin puxou-o para mais perto, beijando-o em igual intensidade, conseguindo sentir o gosto do whiskey.

O baterista afastou-se lentamente, contendo a própria vontade de voltar a beijar Jin mais uma vez. O sabor dos lábios do mais velho conseguia ser melhor do que em qualquer sonho que tivera. Soltou-o, vendo Jin o olhar sem entender sua atitude, suspirando pela quebra do contato.

-Por favor, Jin... - começou, virando o rosto para o lado quando o otaku tentara aproximar os lábios novamente. - Esqueça tudo isso, não me ame mais.

-Você sabe que eu não posso fazer isso Jack. - o moreno maior arregalou os olhos com o pedido do outro, vendo-o se afastar bruscamente. - Eu te amo e sei que...

-EU SEI! MAS NÓS VAMOS SOFRER, PORRA! - gritou, virando-se de costas e caminhando novamente na direção do prédio, falando em um tom que o outro conseguisse ouvir, parando na porta. - Eu prefiro morrer a ver você machucado no final.

O baixista piscou, enquanto o mais novo abria a porta e sumia para dentro do edifício. Nem mesmo reparara que seu capuz havia caído e agora a chuva molhava seus cabelos, um sorriso tomando conta de seus lábios, enquanto levava os dedos até os mesmos. Aquilo fora... Jack o beijara! Ele o amava!

Não desistiria de Jack. Shibuya provaria que seus sentimentos eram reais e que amar poderia ser bom. Permaneceu mais alguns instantes olhando para o local onde o pequeno havia sumido, antes de começar a caminhar para a estação de metrô próxima dali, pulando algumas poças.

Uma pequena luz brilhava agora e se chamava esperança. O mais novo não era imune a si. Se Jack também o amava, então tudo ficaria bem. Afinal, como ele via nos mangás, o amor verdadeiro sempre vencia no final.
E beijos na chuva sempre eram românticos.

Canto na chuva. Pessoas são criaturas tristes
Ria para mim, enquanto você dança, se molhando
E continue cantando para mim que o mundo brilhará de novo

Notas Finais:

Não foi betado.
Tédio, coreanos, Buck-Tick e carnaval dá nisso e_e

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